quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Elas, o menino e o cachorro.

Começa o filme com o menino e o cachorro na praia. Vestígios são feitos sem serem vistos. Somem. Clareia tudo. Duas garotas na areia, sentadas desejando o mundo ao redor. Olhando o céu das três-marias tem junto à mais três estrelas confinantes uma seta pr’um norte. Vê a pegada miúda. - “Uma criança passou por aqui.” Levanta e sem dar-se conta a pegada é pisada, suavizada fica. Internaliza. Fixa pés na areia para ver a própria com a outra pegada. Lúdica mudança de sentido, contornos animalescos foram surgindo. Registro. Visto. Quisto. Caminhando, direção à frente, ladeira d’areia abaixo. Incidência do mar. Achada. Encanto de como num primeiro olhar fosse. Deslumbramento. Sabor doce de meninice. Ressaca à puxar para o abismo-mar que se desvenda à ambas. Êxtase de euforia no alto do perigo. Deleite. Submergida e água sobe. Contratempo. Atraídas pelo norte, trafegam juntas sobre barrancosos caminhos no alto do mar. Presença das pegadas fixa na idéia do permanecer, custa perceberem quais pedras ladrilhavam o caminho. São conchas do mar. Presente de mãe como natureza que se completa. Acolhido o presente percebendo-as e recebendo cada uma. Das conchas viram-se. Procuraram-se. E catando-se foram à volta. Das águas quiseram banho, e como os mesmos passos foram à volta do vácuo total entre só em portal. “Em um lugar vazio a gente se bastava.” Quando uma em cena ficar terá esse momento único que se conecta em um só pensamento quando a outra à ela assistir. E desse instante uma promessa de “sempre” surgia. Um beijo viu longa-metragem, outro de cinema foi, em melodiosas formas e sinos romanceados de quando encontra no amor sua fórmula de felicidade. Foi de comunhão que brotou a cena. O quadro se cerra num intenso caminhar. Elas e suas mãos dadas com o menino, e o cachorro em seus calcanhares. Paralisa. Perdura. Dura. Sempre.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

De tudo que Me tenho agora.

Existe uma forma de viver pela qual descobri que busco. Hoje imagino que está entre o fazer e o existir. Quando agenda cheia tenho, o pensamento ronda até chegar o objetivo. Depois de concluso, muda. Testa a nova marca prevista a se alcançar para novamente ser arrematado da lista com êxito. Mas entre essas brechas comprometidas a cada dia, existe minha existência, essa essência que se chama vida. Como se pode viver com agenda abarrotada? Essa vivência em pautas é sinônimo de “vida”? Não blefo ao dizer que essa rotina de compromissos fora de hora, encangados uns aos outros me fisga. Porém, chega uma hora que tudo foi feito. É quando acontece. O que fazer com o que já foi feito, já que não tenho previsão de uma nova feitura?! Somar. Subtrair. Dividir. Multiplicar. Saber o resultado. E o mais importante, o que resta. Pronto. Não viro a página. Arranco e arquivo. Não é viver. É sobreviver. Quando sinto-me capaz de ser feliz, qualquer banco de praça deixa-me em casa. Pois. De tudo que me tenho agora, do bem e do mal que experimentei e colhi, aquilo que escolho e acolho é que salta de mim e me descreve por linhas claras e contínuas.


quarta-feira, 27 de julho de 2011

Amadurecência.


Ando lendo mais do que o habitual.
O café não me sustenta mais,
Minha sede é outra.

A ausência de palavras só existiu aqui.
Minha cabeça por dias esses virou um turbilhão de inconstantes textos.

O que agora me salta...?
Um gato, e suas sete vidas.
Vidas essas que não vêm a calhar como ressurreições ou milagres.
Apenas só agora me saltam as possibilidades, as vivências, as fases do próprio gato.
Ele não as perde e renasce como em corpo, mas são as sete possíveis modificações do espírito, dos seus anseios, das suas experiências diante das situações vividas.
O gato pode escolher entre todas elas, qual vida usar.
O que importa é que ele não precisa de milagres para mudar ou aprender.

Desses três meses, vivi dessas sete vidas.
E dessa multiplicação vivida, me vejo aos vinte um.

Vinte um é o peso da alma.
A idade da total reencarnação.
É quando respondemos pelos nossos atos.
Assinamos por nós.
É quando o futuro chega e de repente nos chama de “adulto”.
É quando a gente deixa de ser de todo mundo e passa a ser da gente mesmo.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Mas estamos tão singulares...

Vejo-me cansada, sentada em uma escadaria de concreto frígido e nada acolhedora. Olhares me rondam. Seres meus e “além-mim”. Meu próprio estado, perdidamente racional, me coloca a julgar-me. Vejo agora por cima do canto do olho esquerdo uma pessoa incógnita, mas serena ao meu lado. Chegou como uma figura participante do dia-a-dia desse lugar. Deparou-se comigo e perdidamente “seduzido” pelo jardim em que comungamos olhares, sentou-se ao meu lado. Quase como um jogo de espelhos. Talvez um espectro meu. Hora o sinto como um anjo da guarda, hora é meu ego exposto. Pessoas agora nos rondam. Nos olham, mas não nos comunicam. Existe um vácuo entre nós. Porém, desconfio que se nos encarássemos isso não seria um peso. Talvez nos encontrássemos, reconhecêssemos de outra ou da mesma vida. Mesmo sem nos olharmos, confesso que sinto um compartilhamento de sensações. Agora esse rapaz de pele clara, cabelos cacheados, permanece imóvel com os braços cruzados e olhos cerrados no colo. Pergunto-me se o que ele sente é bom ou ruim. Sinto um impulso comparado à um soco no estômago de falar com ele. Angustio-me. Não sei se com as minhas ou angustias dele. Devo me comunicar com esse espelho? E se ele quebrar aos meus olhos tocarem essa fria realidade? Poderia eu incomodar alguém assim? Essa vontade é de me ajudar ou ajudar alguém? Perguntas... Sensações aflorando juntas, saltando da minha mente e difundindo meu corpo. Como um jorro, um fluxo de loucura. Quem sabe ele só quer sossego. Quiçá eu só queira sossego! Por isso estou aqui. Voltei à realidade. Agora me sentindo isoladamente acompanhada de algo. Não como se eu não pudesse “atingir” alguém, mas como se ninguém conseguisse “atingir-me” naquele momento. Finalmente ele levantou a cabeça e olhou para mim. Pausa. “Você se sente bem?” saltou por instinto e nervosismo da minha boca. Mas como um idioma além-mundo, tive que repetir, até finalmente a quarta voz sair da boca do rapaz: “Só estou cansado... De esperar... Cansado...”. Respirei. Ele respirou. Encontrei-me na mesma situação. Deu vontade de segurar a mão dele e nos fazermos companhia. Mas não. Lembrei que nada vai chegar até mim. E nesse suspiro ambos concordamos que é melhor assim. Sinto ele me olhar, quase gritando com através de sua própria consciência: “Quem é essa garota?”, “Sobre o que ela escreve?”. Será que ele imagina que é sobre nós? Nós? Soa-me como encontro de duas pessoas... Mas estamos tão singulares... Não costumo escrever sobre alguém que não faz parte da minha vida. Tenho hábito de escrever sobre mim. No entanto, de tanto precisar me esvaziar, acabei inconscientemente, ou não, resolvendo preencher-me de pessoas alheias à mim. Melhor assim! Principalmente aquelas a quem não preciso esquecer, porque nunca, verdadeiramente, as conheci. Serão somente espelhos meus, refletindo, ofuscando, revelando ou feito só por pedacinhos, até eu juntar os cacos de mim e enxergar-me novamente por inteira.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Mordaça.


Buscando coragem para inspiração.
Procuro me escrever. Pra atingir, dissolver, assimilar e quiçá resolver! Tantos assuntos já atravessaram... Experiências que não estão aqui... Me pergunto o porque, se algumas não se resolveram ou ainda estão reverberando em mim? Mas talvez não seja o momento delas difundir.

Então, vou escrever hoje com o que salta de dentro...


: Nada.







De repete resolvi me prender em meus próprios pensamentos.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Meu avesso como verso.

Escrevo por não querer perturbar. E de perturbada que estou, resolvo me escrever. A mim. Meu avesso como verso.

Confundo minha mente com desejos. Dissimulo que fiz, e às vezes me pergunto se fiz mesmo. Canso de acordar com vaga lembrança de que aconteceu. Não quero minha vida como filme! Essa ficção não me preenche. Perturba! As pessoas não se falam, não conversam, não se entendem... Deixam apenas acontecer. Que aconteça! Mas que se tome posicionamento sobre tal. Não quero meu ontem como borrão. Preciso desembaraçar!

Preciso...! Mas diz isso ao meu coração que quer viver! Faço duas vezes antes de pensar! Insisto no mesmo erro... Uma redundante viagem! “Elucubrada mente”.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Injusto se doar assim como aperitivo.


Me deixa respirar! Coragem eu tenho para te falar. Porém, seria real ouvir da minha boca. Concreto seria, e teria que viver com seu “passo-à-trás”. Audaciosa que sou me maltrato com tua amizade. Mas tu não percebes que aos poucos nesse seu “aproximar” me ludibrio. Tu olhas como quem vê alma. Como não sabes ainda que a minha grita por você? Outro deslumbramento? Palavras inocentes brotam de ti a mim. Se tu lê-se o que li, tu te iludirias assim como eu. E sem saber, venho preenchendo você em mim. Estou cansada, esgotada! Queria poder escolher o caminho. O oposto. O meu gosto. É duro lutar contra os próprios sonhos! Modificar uma cabeça feita na infância. Mas não é justo libertar-me de minha essência, só de tua essência em mim. Não me perguntas por que estou estranha, te acostumes com minha ausência porque é dela que vou alimentar-te. Quando tento recomeçar e encontrar um outro alguém, de susto de vejo. Te encontro e me desencontro. Meu coração bate com um forte arquejo. Compara pulso que tenho agora com o da presença que trago comigo. Injusto se doar assim como aperitivo. Mostrando que meu pulso pode ser descontrolado, por você. Comparado coração. Desisto de tentar, na impressão que não conseguiria viver de pulso lento. E num choro de aflição, mais uma vez, eu desisto de recomeçar. Sabendo que para meu coração já começou há muito tempo. Preciso então acabar. Preciso acabar de te ver. Acabar de te esquecer. Acabar de te encontrar em mim. Comparações que são covardias! Como posso preencher um copo que já está cheio d’água? Transborda! Sobra! E da sobra não se faz falta. Esvaziar. Vazia de você. Cheia de mim.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Nada é Desejo!


Anseio, aspiração, bel-prazer, cobiça, gosto, veleidade, volição, vontade.
Nada é Desejo.

Essa embriaguez me dá na alma, e torna ardente minha carne.
Se quando queimo estanca, se quando escondo, cresce.
Chama acesa clamando consumo.
Um vício, uma doença, uma loucura ou vaidade.
Penetra na mente, invade sistema nervoso, "controla-mente”.
Incontrolável mente.
Dissimula, focaliza e enraíza meu intento.

Satisfaz.
Se desprende.

Se arrepende, pende à voltar.
Mas não é mais desejo, é qualquer outro termo que tu teima em usar.
Um minuto satisfaz um todo?